domingo, 20 de dezembro de 2009

Formação ideológica da análise do discurso!

A FORMAÇÃO IDEOLÓGICA DA ANÁLISE DO DISCURSO

Segundo Pêcheux a ideologia adquire materialidade no discurso, assim, ao se analisar a articulação da ideologia com o discurso, o analista tem de se reportar a dois conceitos tradicionais da AD, a saber, o conceito de formação ideológica e o de formação discursiva: “a região do materialismo histórico que interessa ao estudo do discurso é a da superestrutura ideológica ligada ao modo de sua produção dominante na formação social considerada.” Desse modo, para o referido autor, a região da ideologia deve ser caracterizada por uma materialidade específica articulada sobre a materialidade econômica.
Por conseguinte, a ideologia vai funcionar como reprodutora das relações de produção, isto é, o sujeito será assujeitado como sujeito ideológico, de forma que cada sujeito interpelado pela ideologia busque ocupar o seu lugar em um grupo ou classe social de uma determinada formação social, acreditando estar exercendo a sua livre vontade.
Por sua vez, as classes sociais mantêm e perpetuam a ideologia através do que Althusser (1974) denominou de AIE (Aparelhos Ideológicos do Estado). Assim, os AIE(s) “colocam em jogo práticas associadas a lugares ou a relações de lugares que remetem à relação de classe.” Segundo Brandão (1991), por esse motivo, num determinado momento histórico e no interior dos aparelhos ideológicos, as relações de classe podem se caracterizar pelo afrontamento de posições políticas e ideológicas que se organizam de forma a entreter entre si relações de aliança, de antagonismos ou de dominação.
Brandão também afirma que os discursos são governados por formações ideológicas, entendendo formações ideológicas como um elemento capaz de intervir como uma força em confronto com outras forças na conjuntura ideológica de uma formação social, em um determinado momento. Entende a autora que, “cada formação ideológica constitui um conjunto complexo de atitudes e de representações que não são nem ‘ individuais’ nem ‘universais’, mas se relacionam mais ou menos diretamente a posições de classe em conflito umas em relação às outras.”.
Nesse sentido, a formação ideológica tem como um de seus componente uma ou várias formações discursivas interligadas. Desse modo, as formações discursivas inscritas em uma formação ideológica é que vão determinar “ o que pode ou deve ser dito” a partir de uma conjuntura dada.
Conclui-se, assim, que as formações discursivas representam, na ordem do discurso as formações ideológicas que lhe correspondem. Se é a formação discursiva que determina o que se pode e o que se deve dizer – a partir de uma posição dada, em uma dada conjuntura – as palavras, expressões e proposições em uso recebem o seu sentido da formação discursiva na qual são produzidas. Desse modo, tais palavras, expressões ou proposições mudam de sentido segundo as posições mantidas pelos que as empregam, o que significa que elas tomam seu sentido em referência a essas posições, isto é, em referência às formações ideológicas nas quais essas posições se inscrevem.

Um comentário:

  1. Gostei. Me ajudou a entender o Cap. III de Pêcheux. Voltarei ao seu Blog. Parabéns. José Roberto - Mestrando Adm - UFES 2012 - jrbs88@gmail.com

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