domingo, 20 de dezembro de 2009

A formação discursiva AD!

A FORMAÇÃO DISCURSIVA

Os estudiosos de AD postulam que, se por um lado não há discurso destituído de ideologia, por outro , não há discurso que não tenha e/ou apresente a inscrição de outros, visto que todos eles nascem e apontam na perspectiva de suas relações com outros discursos. Desse modo, a AD privilegia o conceito de interdisciplinariedade para os estudos que desenvolve no campo da investigação sobre a linguagem.
Segundo Pêcheux , o conceito de formação discursiva compreende o lugar de construção dos sentidos, determinando o que “pode” e “deve” ser dito, a partir de uma posição numa dada conjuntura. Assim sendo, a uma dada formação discursiva sempre corresponde uma dada formação ideológica.
Para Orlandi (1988), é na formação discursiva que se constitui o domínio do saber, o que funciona como um princípio de aceitabilidade para um conjunto de formulações e, ao mesmo tempo, como um conjunto de exclusão do “não-formulável”.
Entende-se, assim, que a formação discursiva não só se circunscreve na zona do dizível – do que pode e o que deve ser dito – definindo conjunto(s) de enunciado(s) possíveis, a partir de um lugar determinado, como também circunscreve o lugar do não dizível – o que não pode e o que não deve ser dito. Por esta razão, para tratar de formações discursivas, faz-se necessário tratar da interação entre formações discursivas, pois que a identidade do discurso se constrói na relação com o Outro, esteja esse Outro marcado ou não lingüisticamente.
Postula Maingueneau (1989) que quando se busca especificar a noção de interdiscurso, faz-se necessário recorrer a três conceitos complementares, a saber:
. universo do discurso – compreendendo o conjunto de formações discursivas de todos os tipos de discurso que interagem numa dada conjuntura. Em sendo este conjunto bastante amplo, afirma o autor que ele jamais poderá ser concebido na sua globalidade; por conseguinte, a utilização da noção de universo de discurso só se presta para definir campos discursivos;
. campos discursivos – compreendendo um conjunto de formações discursivas que se encontram em relação de concorrência em uma dada região do universo discursivo;
. espaço discursivo – compreendendo a delimitação de subconjuntos(s) do campo discursivo, estabelecendo relações cruciais entre pelo menos duas formações discursivas.
É importante ressaltar que as formações discursivas, por pertencerem ao mesmo momento histórico instituem em campo discursivo, devido ao fato de possuírem a mesma formação sócio-histórica; razão por que é o princípio da contradição a marca de especificidade da formação discursiva. Essa contradição funciona como princípio de historicidade do discurso. Entende-se, pois, que a concepção de formação discursiva não se remete ao fechamento, à imobilidade – expressão cristalizada da visão de mundo de um grupo social – mas a um domínio aberto e inconsistente ( cf. Brandão,1991)
Segundo Courtine (1981), uma Formação Discursiva se dissocia de uma memória discursiva que pode ser compreendida a partir de três domínio diferentes:
. domínio da memória: aquele que se circunscreve à seqüências discursivas pré-existentes – formulações já enunciadas – que toda formação discursiva faz circular;
. domínio da atualidade: aquele que se circunscreve a seqüências discursivas em uma dada conjuntura histórica dada, inscrevendo-se na instância do acontecimento, de modo a fazer irromper um acontecimento passado, para reatualizá-lo;
. domínio da antecipação: aquele que se circunscreve a seqüências discursivas que mantém relações interpretáveis como efeitos de antecipação, revelando: ser impossível atribuir um fim a um processo discursivo; ser sempre possível relacionar uma seqüência discursiva com o seu exterior, possibilitando provar que sempre haverá outras relações; ser possível – a partir de resultados obtidos em análise – construir um domínio de antecipação.
Entende Brandão (1991) que “ (...) a existência de uma formação discursiva como memória discursiva e a caracterização de efeitos de memória em discurso, produzidos numa dada conjuntura histórica, devem ser articulados com os dois níveis de formação discursiva: o nível interdiscursivo e o nível intradiscursivo.”
O nível interdiscursivo é compreendido por Maingeneau como a relação de um discurso com outros discursos do mesmo campo, podendo divergir deles ou apresentar enunciados semanticamente vazios em relação àqueles que autorizam sua formação discursiva. O nível do intradiscurso é compreendido como a relação que o discurso defino com outros campos discursivos, dependendo de serem os enunciados do discurso citáveis ou não. Nesse sentido, pode-se propor a existência de uma intensa circulação de “saberes” de uma região para outra no universo discursivo.
Entende-se que, em se tratando do nível interdiscursivo, na formação dos enunciados está implicado o próprio saber sobre uma formação discursiva, de modo que os próprios enunciados existem no tempo de uma memória. Assim sendo, esse saber envolve toda uma transmissão cultural, não só transmitida de geração em geração, mas também regulada pelas instituições.
Assim, no nível interdiscursivo – designado intertextualidade interna por Maingueneau – a memória discursiva possibilita, por uma lado, a circulação de formulações anteriores e, por outro, o aparecimento, a rejeição e a transformação de enunciados pertencentes a formações discursivas historicamente contíguas , visto que enunciar é sempre se situar em relação ao “já dito”: o que se constitui no “outro” discurso.

Um comentário:

  1. Olá!
    Descobri seu blog estudando linguística. Seu blog é muito bom! É possível estudar por ele. Você escreve bem, explica bem. Já pensei em fazer um blog sobre linguística assim, mais ou menos como o seu, mas preciso de estudar mais. Vejo que o blog está há um bom tempo sem postagens. Então, eu quero pedir, por favor, volte a escrever.
    Muito obrigado. Até mais!! :)

    ResponderExcluir